Os maiores especialistas em carreira e recursos humanos que me perdoem, mas eu acredito em compartilhar as nossas vulnerabilidades em alto e bom som. Claro que, assim como muitos deles falam, acredito em compartilhá-las depois que eu me sinto preparada em falar sobre elas. Por isso hoje eu mudei o tema da carta dessa semana para falar sobre...maternidade. E digo mais: quero escrever sobre como as mulheres que são mães dentro de uma empresa - tão menosprezadas geralmente - deveriam ser os ativos mais importantes de uma corporação.
Há alguns dias eu venho precisando olhar com um pouco mais de atenção para os meus dois filhos, uma menina de 15 anos e um menino de 4. A mais velha se queixava de dores abdominais e o mais novo...bom, com a energia de um mais novo. Enquanto isso uma agenda de trabalho me esperava para ser cumprida. E aí? Acorda 4h30 da manhã para levar a mais velha no primeiro horário da pediatra que fica em outra cidade. O mais novo vai para a escola, mas precisa sair mais cedo porque o fornecimento de água está comprometido. A mais velha é atendida e medicada. O mais novo sai ainda mais cedo porque está febril. Faz reunião por áudio enquanto cozinha o almoço. Manda áudio para a parceria de mídias sociais elogiando o trabalho (que ficou lindo mesmo). Tira print das aparições das clientes na mídia para criar publicações nas redes sociais. Agenda reunião de retorno da proposta que foi enviada. Faz mais uma reunião por vídeo. Grava áudio no quarto para a jornalista que está esperando um material pedindo que espere mais trinta minutos. E, minha gente, hoje é (ainda) só terça-feira.
"Tá, mas e qual é a relação entre a maternidade e o mercado corporativo?", você me pergunta. Toda.
A maioria das empresas acredita que mães serão as primeiras a ligarem para o escritório dizendo que não podem trabalhar porque o filho está doente. As empresas têm certeza de que as mães serão as primeiras a mostrarem fragilidade diante de um problema corporativo. As empresas apostam suas fichas que as mães são as funcionárias mais fracas, mais emotivas, mais sensíveis. As empresas não sabem o quanto elas estão erradas...
A maternidade é um MBA em Gestão de Crise. Sim, porque ser mãe é lindo, mas é eita atrás de eita, sejamos honestas. Um dia é a reunião de pais que fala que a filha conversa demais, no outro dia é a figurinha da Super Copa XPTO que está faltando no álbum. No terceiro dia é o jantar de uma que quer macarrão e o mesmo jantar do outro que detesta macarrão (sim, meu filho mais novo não come macarrão...você sabe o que é criar uma criança que não tolera macarrão??? Eu sei...) e no meio de todo esse caos tem uma mãe...no caso, eu. Mas assim como o caos impera em minha casa dia sim, outro também, milhares de outras mães enfrentam o mesmo cenário.
E sabe o mais incrível? Elas dão conta do recado.
As mães do mercado de trabalho, estejam ela na posição de colaboradoras, executivas ou empresárias são as peças fundamentais para a engrenagem da empresa funcionar. E não estou sendo utópica. A capacidade de olhar para um cenário de caos e organizar o pensamento é inerente a quem tem a função de educar e criar um ser humano para a vida. Mães sabem sobre economia, comunicação, psicologia, gerenciamento de crise, criatividade, finanças, planejamento do tempo, produtividade...o repertório é gigantesco. Um repertório rico que é fruto da tarefa árdua (e cansativa, verdade seja dita) que é criar filhos para o mundo.
E sabe o que é o mais triste? É olhar para essa pessoa tão rica de conteúdo, tão cheia de vida e carregada de vontade de fazer acontecer e ver que o mundo corporativo considera fraqueza a sua maior força.
São os meus filhos que me fazem querer ser uma pessoa melhor. É por mim que trabalho - porque amo aquilo que faço, porque minha vida profissional é boa parte da minha identidade - mas é por eles que arregaço as mangas. É para que o mercado de trabalho seja mais justo com a minha filha no futuro que, por ser mulher e um dia talvez mãe, que eu faço a minha parte na sociedade. É para que meu filho seja um homem que saiba valorizar de verdade uma mulher - e que apoie um dia a mulher dele (se ele tiver uma) em todas as decisões que ela tomar.
A maternidade pode ser a maior vulnerabilidade de uma mulher. Mas ela é, também, a sua maior força.
E por que eu quis trazer isso aqui para você justamente hoje? Porque eu estou cansada. Física e mentalmente. Mesmo assim eu sentei aqui para escrever pra você. Escrever em um dia de vulnerabilidade para te mostrar que você não está sozinha nos seus dias mais fracos. Para você saber que, assim como você, todo mundo tem dias que a coisa parece não fluir. Todo mundo passa por perrengues que acha que não vão passar. Eles passam.
E escrevo também para que o mundo corporativo que me lê possa refletir sobre todas as competências que uma mãe desenvolve quando se joga do penhasco sem saber o que vem no momento em que segura seu filho no colo. Maternidade é um empreendimento. Mas os riscos são infinitamente maiores do que falir uma empresa e...veja só, poder abrir outra depois. Na maternidade a falência na educação de um filho custa caro. Muito caro.
Que o mundo corporativo possa ser mais gentil ao olhar para as mães. Elas merecem.
Um beijo e até semana que vem, menos cansada (assim espero).
Comments