Recentemente comecei (e terminei) a assistir "Asas da Ambição", um seriado turco da Netflix. Ao longo de 24 episódios divididos em três temporadas, acompanhamos a vida e carreira de Asli Tuna - uma aspirante a jornalista e Lale Kiran - a âncora de telejornal mais poderosa da Turquia. Não darei nenhum spoiler a respeito do seriado, mas recomendo fortemente que assistam. É daquelas séries que a gente sempre diz que vai assistir "só mais um episódio" e acaba três horas depois nesse mesmo discurso. Mas não é sobre o seriado em si que quero falar, mas sobre poder e maternidade.
Lale Kiran é uma mulher forte que comanda uma grande equipe de jornalistas, é casada e tem duas filhas que, acredito, tenham entre 8 e 11 anos. Nos primeiros episódios da primeira temporada é mostrado o quanto Lale preza a maternidade; todos os dias ela busca as meninas na escola e passa algumas horas dedicada exclusivamente às meninas ("é a nossa hora de happy hour, porque ela não atende ninguém enquanto está com as filhas", diz uma das assistentes da jornalista). Confesso que quando vi isso sendo retratado, achei sensacional...finalmente uma série que trazia uma protagonista forte e exercendo o maternar. Até que...os roteiristas parecem se esquecer em determinado momento que a personagem é mãe.
Me pergunto "por quê"? Por que a ficção ainda acredita que a mulher precisa escolher entre ter poder e ter filhos? Por que a maternidade ainda é colocada como fator de enfraquecimento de uma mulher? E não só "por quê?", mas pra quê?
Não é só injusto, mas cruel colocar a mulher nesse papel. É desnecessário apresentar na ficção personagens que precisam escolher entre abdicar da carreira ou da maternidade. Nós NÃO precisamos escolher; é possível exercer esses dois papeis - e de maneira brilhante. Vejam só Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank. Cris tem três filhas pequenas, foi capa da Forbes grávida de noves meses e faz um papel incrível no Instagram mostrando o exercer desses dois papeis: mãe e empresária. Claro, ela tem uma rede de apoio enorme, mas existem outras tantas mulheres que ocupam cargos importantes em empresas que também têm filhos e vivem em uma realidade bem distante da cofundadora do Nubank e estão aí, em títulos de poder.
Lale não é retratada como uma mãe negligente, pelo contrário. Em diferentes momentos da série, ela é mostrada ao público como uma pessoa consciente de seu papel na sociedade, do tamanho de sua marca pessoal e se preocupa em como ser essa pessoa pública afeta suas filhas. A questão é que a série escolheu não mostrar uma mulher poderosa exercendo a maternidade. A série escolheu, assim como na vida, deixar a maternidade em terceiro plano, como se ela não pudesse coexistir com uma carreira de sucesso.
Chega desse cenário. Não precisamos disso. Se até a Disney já tem apresentado ao mundo princesas e rainhas que não dependem de um casamento no fim do filme para o "felizes para sempre", precisamos que a ficção também mostre mulheres poderosíssimas com crianças no colo ou adolescentes rebeldes. Porque essa é a vida real.
Espero que esse cenário mude e que possamos assistir filmes e séries com essas figuras maternas exercendo cargos de poder. Porque, sejamos honestas, muitas vezes a ficção é um reflexo da realidade e nós queremos nos enxergar nesses seriados. Pena que anda tão difícil...
Por fim, encerro essa carta pra você com uma frase que ilustra um de nossos presentes para algumas clientes:
entre ser mãe e empresária, escolha os dois.
Um beijo e até a próxima carta, Tati Fanti
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